Para presidente da Renault Brasil, país tem vantagens para o carregamento de elétricos
Em recente entrevista ao Estadão, o presidente da Renault do Brasil, Ricardo Gondo, trouxe valiosas observações sobre o potencial do Brasil no desenvolvimento do mercado de veículos elétricos, enfatizando algumas vantagens que o país tem sobre a Europa em termos de infraestrutura de carregamento.
Gondo destacou que a maioria dos compradores brasileiros de veículos elétricos possui a possibilidade de instalar carregadores residenciais, o que permite uma independência considerável dos pontos de carregamento público. Isso contrasta com a realidade europeia, onde a falta de garagens particulares nas grandes cidades dificulta a instalação de carregadores domésticos, tornando a Europa mais dependente de uma infraestrutura pública robusta para atender à demanda crescente por veículos elétricos. Essa observação reforça o fato de que, embora o Brasil ainda não possua uma rede de carregamento tão ampla quanto a europeia, o perfil de uso dos clientes locais permite que o mercado de elétricos cresça, mesmo com uma rede pública de carregamento ainda em desenvolvimento.
Além disso, Gondo explicou que, para a Renault, a transição para os veículos 100% elétricos será gradual e coexistirá com tecnologias híbridas até 2040. A empresa, por meio da unidade Horse — uma joint venture com a montadora chinesa Geely e a empresa saudita Aramco —, tem investido em desenvolver um motor híbrido flex específico para o mercado brasileiro. A iniciativa reflete a compreensão da Renault sobre a dinâmica local, onde o consumidor busca alternativas que unam eficiência energética e autonomia, especialmente em um país de proporções continentais como o Brasil.
Outro ponto central abordado na entrevista é a defesa de uma taxação sobre os veículos elétricos chineses importados, como forma de fomentar a produção local. Gondo justificou essa postura com base na necessidade de uma competitividade justa, destacando que países como os Estados Unidos, Canadá e várias nações da Europa já adotaram políticas protecionistas para defender suas indústrias nacionais de eletrificação. Esse argumento revela a preocupação da Renault com o fortalecimento da cadeia produtiva brasileira e a previsibilidade necessária para atrair investimentos de longo prazo no país, uma vez que o setor automotivo envolve altos custos e prazos extensos para o desenvolvimento de novos produtos.
O impacto dessa eletrificação também se reflete no transporte de veículos zero-quilômetro. Com um portfólio que inclui cada vez mais modelos elétricos e híbridos, os transportadores, como os associados ao SINACEG, terão novos desafios e oportunidades pela frente, mostrando que essa eletrificação da frota afeta não apenas o mercado consumidor, mas toda a cadeia logística, incluindo o transporte rodoviário de longa distância.
A entrevista de Ricardo Gondo aponta para um momento de transformação na indústria automotiva brasileira, no qual a Renault busca se posicionar de maneira a atender as necessidades do mercado local e as exigências globais de sustentabilidade. A gradual transição para veículos híbridos e elétricos, aliada ao incentivo à produção local, sugere um futuro promissor, mas que exige um esforço conjunto para criar uma infraestrutura robusta e adaptada. Ao focar na adaptação das tecnologias às condições brasileiras, a Renault se compromete com um modelo de inovação que promete não apenas novos produtos, mas também novas oportunidades para o desenvolvimento industrial e logístico do país.