Os desafios das Entidades Sindicais no atual cenário das relações trabalhistas

Publicado em: 26/03/2024
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Historicamente, o papel ativo das organizações sindicais não apenas representou uma salvaguarda dos direitos dos trabalhadores, mas também exerceu uma função crucial na construção de uma economia mais justa e equilibrada. A ação dessas entidades sempre lhes garantiu uma capacidade de negociação coletiva mais robusta, um poder de barganha que vem possibilitando que os sindicatos alcancem acordos que repercutem diretamente em benefícios para os trabalhadores, assegurando salários justos e condições laborais adequadas. Do ponto de vista dos sindicatos patronais, caso do SINACEG, dá-se o mesmo.

Em anos recentes, as relações trabalhistas passaram por uma verdadeira revolução. Com a rápida ascensão da gig economy, aplicativos de entrega, transporte e uma gama de outros serviços fizeram surgir uma realidade jamais vista na história do mercado de trabalho. Essa realidade – na qual o vínculo patrão/empregado torna-se algo etéreo, sem ligações formais – tem desafiado governos, legisladores, empresas e trabalhadores ao redor do mundo, sem que nenhum consenso tenha sido encontrado sobre como lidar com as questões levantadas pela “uberização” da força de trabalho.

No mercado de trabalho “tradicional”, era comum empresas reunirem milhares de funcionários em um único local, o que fortalecia a capacidade agregadora dos sindicatos. Hoje em dia, muitos desses empregos foram substituídos por máquinas e, em outros setores, não há mais essa concentração física de trabalhadores. Mesmo quando a contratação segue as normas da CLT, algo cada vez menos padrão, o impacto do home office, da jornada flexível, do trabalho intermitente e de uma visão individualista predominante na sociedade contemporânea se apresentam como gargalos na representatividade sindical.

A pergunta que surge é como os sindicatos podem se adaptar a essa nova realidade, representando efetivamente trabalhadores que se veem como empreendedores individuais, enxergando a empresa, normalmente um aplicativo sem rosto, como uma mera ferramenta para seus serviços. A resposta, sem dúvida, reside na capacidade de os sindicatos ressignificarem sua abordagem e compreenderem as nuances desse novo perfil de trabalho.

É crucial reconhecer que as demandas e a sociedade mudaram. As reivindicações mais relevantes em tempos passados podem não refletir mais a realidade atual. Os sindicatos precisam falar a mesma língua dos representados, conhecendo seus anseios e buscando inovações que garantam direitos em um contexto laboral em constante transformação.

O desafio, portanto, é grande, mas não insuperável. A adaptação das entidades sindicais a esse novo paradigma, somada a uma participação ativa nos debates sobre o futuro de cada setor da economia, pode não apenas preservar seu papel na defesa dos interesses individuais e coletivos, mas também contribuir para a criação de um ambiente mais estável no mercado de trabalho.

Dentro dessa visão estratégica, o presidente do SINACEG, José Ronaldo Marques da Silva, destaca que vê os sindicatos atuando não somente na defesa dos direitos trabalhistas e no relacionamento com empresas e governos para garantir os interesses dos trabalhadores. Ele enfatiza a importância de os sindicatos investirem em infraestruturas que assegurem a qualidade de produção e a prestação de serviços em cada setor. Isso visa não apenas à proteção dos direitos, mas também ao aprimoramento das condições de trabalho e à competitividade das indústrias nacionais no cenário local e global.

Tal abordagem é tanto mais verdadeira quando se tem em conta que a entidade que preside tem característica híbrida. Trata-se de uma entidade patronal, cujas características colocam-na muito mais próxima do fator trabalho do que do fator capital. Não é por menos que, por volta de vinte anos atrás, chegou-se a cogitar da criação de tal classificação no âmbito do Ministério do Trabalho, ideia que não foi adiante por questões meramente burocráticas, apesar da boa fundamentação que a sustentava.

Conforme ressalta o presidente, essa abordagem ampliada permitirá que os sindicatos desempenhem um papel proativo na construção de uma economia mais dinâmica e eficiente, mantendo sua posição de ator fundamental para o avanço da nossa sociedade.