Opinião SINACEG: o desafio da reconstrução das estradas do RS
O Rio Grande do Sul enfrentou em maio o desastre climático mais devastador de sua história, e talvez de todo o Brasil. A enchente de proporções catastróficas varreu a região, submergindo cidades inteiras e transformando paisagens conhecidas em cenários de destruição. Uma tragédia que não apenas causou danos enormes à infraestrutura, mas também resultou em perdas humanas, deixando uma marca irreparável na memória da população.
Os números são chocantes: nesse momento, são contabilizados 182 mortos e 31 desaparecidos. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas, perdendo casas, bens e, em muitos casos, tudo o que possuíam. Comunidades inteiras foram evacuadas às pressas, com moradores buscando refúgio em abrigos improvisados e dependendo da solidariedade para sobreviver aos dias seguintes à tragédia. Além disso, a infraestrutura crítica, como estradas, pontes e sistemas de saneamento, foi severamente danificada, isolando áreas rurais e urbanas e dificultando os esforços de resgate e recuperação.
Neste contexto de calamidade, a necessidade de reconstruir as rodovias de forma resiliente e adaptada aos desafios das mudanças climáticas torna-se imperativa. É fundamental que a nova infraestrutura viária não apenas estabeleça a plena conectividade e a funcionalidade da região, mas também seja projetada para resistir a futuros eventos climáticos extremos.
Neste texto, o SINACEG aborda as maneiras mais eficazes de realizar essa reconstrução, destacando as práticas e tecnologias que podem tornar as rodovias do Rio Grande do Sul mais robustas e preparadas para enfrentar um futuro marcado por incertezas climáticas.
ANÁLISE DE RISCO E PLANEJAMENTO
A primeira etapa na reconstrução de rodovias é a realização de uma análise detalhada das áreas propensas a enchentes, deslizamentos e outros desastres climáticos. Isso envolve o uso de dados históricos, modelagem climática e consultas com especialistas em hidrologia e geologia.
Nesse sentido, desenvolver planos que considerem diferentes cenários de mudanças climáticas é essencial. Isso inclui prever eventos extremos e planejar como a infraestrutura deve ser adaptada para lidar com eles.
PROJETO E CONSTRUÇÃO RESILIENTE
Elevar o nível das rodovias em áreas propensas a enchentes pode prevenir alagamentos. Essa prática, conhecida como aterro elevado, cria uma barreira física contra a água. Em paralelo, utilizar materiais que suportem melhor as condições extremas, como concreto reforçado e asfalto polimérico, tende a aumentar a durabilidade das rodovias. Esses materiais são mais resistentes à erosão e às variações de temperatura.
A instalação de sistemas de drenagem robustos, como bueiros ampliados e canais de desvio, também representa um aspecto fundamental na construção de rodovias mais resistentes, pois ajuda a desviar o excesso de água durante eventuais enchentes, evitando que ela se acumule na superfície da estrada.
TECNOLOGIAS E INOVAÇÕES
É recomendável implementar tecnologias de monitoramento em tempo real para acompanhar as condições das estradas, os níveis de água nos rios e a segurança nas encostas. Sensores e câmeras podem fornecer dados cruciais para intervenções rápidas e eficazes, protegendo vidas e bens físicos
A implementação de infraestrutura verde também é recomendada. Ao incorporar soluções baseadas na natureza, como a construção de zonas úmidas artificiais e a plantação de vegetação nativa ao longo das rodovias, abre-se a possibilidade de absorção do excesso de água, reduzindo o impacto de enchentes, erosão e deslizamentos.
MANUTENÇÃO E GESTÃO
Um tópico que se estende para toda a malha viária brasileira, além do RS. A realização de inspeções e manutenções regulares para identificar e reparar danos menores antes que se tornem problemas maiores seria um fator primordial para acabar com um dos grandes gargalos para o crescimento do país. Isso inclui a limpeza constante dos sistemas de drenagem e a reparação de fissuras e buracos no pavimento.
ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO E EDUCAÇÃO
É importante envolver representantes das comunidades locais no processo de planejamento e reconstrução. Isso pode aumentar a aceitação das novas infraestruturas e garantir que as necessidades das populações no entorno das rodovias sejam atendidas. Ainda junto às comunidades formadas na proximidade de rodovias, é imperativo promover a educação sobre a importância da resiliência climática e as medidas necessárias para garantir a longevidade e a resiliência do trecho viário. Campanhas informativas podem preparar a população para agir corretamente em situações de emergência.
Reconstruir as rodovias do Rio Grande do Sul após o desastre climático exige uma abordagem multifacetada que combine todos os esforços de entes federais, estaduais e municipais na construção de uma infraestrutura preparada para um mundo novo que já não é mais um modelo científico, mas uma realidade que causa a perda de vidas, empregos e crescimento econômico.