Estudo utiliza IA para descobrir padrões em acidentes de trânsito

Pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desenvolveram um estudo que aponta fatores determinantes para a ocorrência e a gravidade de acidentes nas rodovias do estado. Utilizando técnicas de mineração de dados e inteligência artificial, foram analisados dois conjuntos de registros fornecidos pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR): um referente ao período entre 2004 e 2013 e outro de 2019 a 2024. Os modelos criados apresentaram alto índice de precisão, superando 94% no primeiro intervalo e variando de 86% a 89% no segundo.
A pesquisa revelou que trechos situados em perímetro urbano registram quase o dobro de ocorrências em comparação a áreas rurais. Elementos como a presença de segunda ou terceira faixa, curvas acentuadas, áreas de ultrapassagem com sinalização por linha tracejada, acostamento e iluminação insuficiente também se destacaram como fatores de risco. Em relação à gravidade dos sinistros, os maiores índices foram associados a vias urbanas, trechos sinuosos, baixa iluminação, pontos de ultrapassagem e velocidades mais elevadas.
O estudo utilizou quatro técnicas de mineração de dados, incluindo o software CBA (Classification Based on Associations), que cria regras de classificação para prever acidentes fatais a partir de variáveis como tipo de via, velocidade, clima, iluminação e presença de áreas urbanas. Foram considerados fatores ligados ao perfil dos condutores, características da infraestrutura, condições ambientais e tipos de transporte envolvidos.
Fatores associados à ocorrência de acidentes:
- Presença de perímetro urbano: +90%
- Segunda ou terceira faixa: 65,8%
- Maior sinuosidade do terreno: 62,2%
- Áreas de ultrapassagem com linha tracejada: 56,3%
- Presença de acostamento: 53,9%
- Iluminação insuficiente: 48,2%
Fatores associados à gravidade dos acidentes:
- Presença de perímetro urbano: 93,5%
- Maior sinuosidade do terreno: 66,8%
- Baixa iluminação: 62,1%
- Áreas de ultrapassagem: 59,7%
- Velocidades mais elevadas: 44,5%
Os autores defendem que o mapeamento desses padrões pode orientar medidas para reduzir os riscos, como construção de vias de contorno, implantação de passagens em desnível, instalação de radares e lombadas eletrônicas, melhorias na sinalização e no controle de velocidade, além de intervenções estruturais para aumentar a segurança.
A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 3,5 mil pessoas percam suas vidas diariamente em acidentes de trânsito no mundo, o que corresponde a cerca de 1,3 milhão de óbitos anuais. No Brasil, apenas nas rodovias federais, foram registradas mais de 6 mil mortes em 2024, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Esses números reforçam a importância de estratégias baseadas em evidências para prevenir tragédias e salvar vidas nas estradas.